sexta-feira, 5 de junho de 2015

Merecemos melhor

Dizia o George Bernard Shaw que a democracia é a melhor garantia de sermos governados como merecemos. Um aforismo tipicamente shawiano, não sei se emitido antes ou depois da sua visita à União Soviética, que se assemelha à vox populi segundo a qual cada povo tem os políticos que merece. Veio-me isto à memória por causa de uma crónica do Douglas Murray, na véspera das últimas eleições britânicas (Spectator, 6/5/15), em que ele negava com veemência a sabedoria cínica da frase. Não para dizer que os políticos são melhores que os eleitores, afinal, mas para dizer o contrário. Olhando para o vazio das campanhas de Cameron e Miliband, o cronista concluía que os súbditos de sua Majestade são em geral bem melhores  que os seus MPs.
Não sei o que ele diria de Portugal, se fizesse o mesmo exercício. Seremos nós, os Silvas e Picoitos deste país, melhores que Passos, Portas e Costa? Ou Sócrates e Relvas? Ou até Duarte Lima, Armando Vara e Isaltino de Morais?
Modéstia à parte, diria que sim. E parece-me que a maioria dos portugueses também. O que ajuda a perceber o famoso distanciamento entre eleitores e políticos, ou a aparição de fenómenos populistas como Marinho Pinto e Sampaio da Nóvoa. Talvez a causa da lamentada abstenção esteja aqui e não no sistema eleitoral, na vacuidade dos programas partidários ou no fim das ideologias. Como quase sempre, o problema é de pessoas. A reforma mais urgente da política é a reforma dos políticos. Merecemos melhor.

3 comentários:

  1. Caro Pedro,
    só duas questões breves.
    1. Onde se lê "aparição", não seria preferível escrever "aparecimento"? Ou é propriamente em "aparições" que o Pedro, dada a natureza dos fenómenos evocados, está a pensar?
    2. Não lhe parece que, se efectivamente merecêssemos melhores políticos, já os teríamos — ou até, como me parece ser o fundo da questão, já seríamos nós os nossos próprios políticos?

    Abraço

    msp

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    1. Apoiado. Se usarmos a bitola que os biologos usam para analizar a natureza em geral, teremos que concordar que pela ideia de Darwin esta é mesmo o estado que a nossa evolução mostrou merecer. Quem consegue juntar perto dum milhão de almas descontentes e na continuação produz uma mão cheia de grupos euforicos e inconsequentes dá razao a Darwin

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  2. Caro Miguel
    1. confesso que não tinha pensado na natureza um pouco mística do fenómeno, mas tem razão.
    2. Essa é a grande questão. o problema é que a democracia não funciona sem partidos e os partidos são hoje a grande causa do mau funcionamento da democracia. Talvez um maior rigor na vida política, uma opinião pública mais vigilante, mais participação (não apenas partidária) dos cidadãos possam ajudar a resolver o problema. Mas confesso que estou pessimista.

    PP

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