domingo, 18 de janeiro de 2015

A israelização da Europa ( II)

Continuando  o iniciado aqui.


1) O passado colonial, o fardo do homem branco,  a culpa. Quer queiramos quer não, são  tópicos  que foram agora brandidos, como têm  sido sempre. Não interessam pelo seu valor retórico, apenas  pelo que deixam por dizer:  a legitimação do ataque reside no passado.
Em Israel, muito mais do que  contabilidade da guerra e  dos massacres,  é também o passado, o início do passado. No caso de Israel, o tropos colonial estende-se até  hoje. Neste debunking dos mitos sionistas omite-se, convenientemente, a razão da necessidade  da criação de Israel, desvalorizando a importância do holocausto.  De facto, o sionismo é pré-nazi, porque, em sede de perseguição aos judeus, os nazis foram apenas o apex letal de uma  longuíssima e recente ( os judeus praticam o incesto, os judeus usurários querem tirar-nos a Argélia etc ) história.

2) Não deixa de ser  curioso que, numa espécie de essencialismo  invertido,  as categorias colonial e imperial ( são coisas diferentes), na sua expressão   moderna,   só sejam aplicadas aos ocidentais. Antes do Great Game ou do Sykes-Picot,  entre o século XIX e o XX, Kangxi colonizou a Manchúria  russa e o Tibete.  O Japão colonizou a Coreia, a China sufocou ( e sufoca)  muçulmanos. Noutra zona, Ibn Saud funcionou como qualquer chefe de potência colonial e imperial para engordar o seu emirato de Riade, mais tarde o reino  saudita, anexando Al-Hasa e Qatif. 
Muitas etnias e culturas destas aventuras coloniais e imperiais  eram tão distintas com os  zulus dos britânicos, muita da crueldade foi exactamente igual.

3) Como em Israel, um pecado original afectará  então os europeus. Pouco importa  a tolerância diante das diversidades culturais,  a aplicação de mecanismos  de solidariedade, o reconhecimento - expiação - mediático e académico do pecado. 
Em 1958, Camus escrevia sobre a penitência perpétua:
"O tempo dos colonialismos acabou. E o Ocidente, que em dez anos deu  a autonomia a uma dúzia de colónias, merece por isso mais respeito, e, sobretudo,  mais paciência, do que a URSS, que, no mesmo tempo, colonizou ou  colocou sob um protectorado implacável uma dúzia de países de grande e antiga civilização" ( Chroniques algériennes,  1939-1958, tradução minha).
Agora comparem Camus com esta escangalhada de Manuel Loff .

( cont.)

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