domingo, 20 de julho de 2014

Tu quoque, Costa?

António Costa deu hoje uma entrevista de fundo ao Público. Dita assim, a coisa não suscita especial entusiasmo à nação, sensatamente a banhos, mas acontece que metade do PS, ou mais, anda a dizer que Costa será o próximo Primeiro-Ministro. A nação, sempre sensatamente, tem feito o que pode para se alhear do arremedo dos idos de Março conhecido por "primárias do PS". Há, porém, uma certa hipótese de Costa lá chegar, o que recomenda alguma atenção às suas entrevistas de fundo, tanto mais que a nação, antes de ir a banhos, o acusava de nada dizer.
Não vos vou maçar muito, pois a maioria de vós faz parte da nação, sensatamente a banhos, e não faz parte da metade do PS, ou mais, que saúda Costa como o sucessor de todos os césares.  As grandes novidades são a candidatura de Guterres a Belém (nada contra, se touxer a Angelina) e a notabilíssima ideia de que "temos de ter uma redução da austeridade interna para relançar a economia".
Como? Ah, ingratos, que fazeis perguntas difíceis... Não vos chega a Angelina, perdão, o Guterres? Pois então, "através de "um mecanismo de correcção dos efeitos assimétricos do euro" que permita, tal como propôs o comissário europeu Lazlo Andor (não, este não vem com o Guterres), "um estabilizador automático com incidência no subsídio de desemprego".
E o dinheiro para isto? Sois muito mesquinhos, francamente. Não se vê logo que é pelo "reforço da solidariedade orçamental" entre os membros da União, "como acontece em todas as uniões monetárias, designadamente nos Estados Unidos" (sic), ou seja, a Alemanha que pague a crise? E se duvidardes que o burgomestre alfacinha convencerá a Alemanha, incréus ao serviço da direita e do Seguro, responder-vos-ei que estamos na presença do futuro Primeiro-Ministro e logo se pensa no resto.
Aliás, já se pensou. "Depois há medidas para o crescimento sustentado", a saber "a avaliação dos nossos recursos, a modernização do tecido empresarial e da administração pública, o investimento na cultura, na ciência e na educação e o reforço da coesão social". Por esta é que não esperáveis, pois não? Tomai lá com a modernização, a cultura e a coesão social.
Mas descansai, que nem tudo é igualmente glorioso. A páginas tantas, há mesmo uma crítica terrível a Sócrates, esse outro messias incompreendido. Questionado sobre alianças para aqui e entendimentos para ali , Costa atira a matar: "o erro da anterior governação socialista foi não ter aproveitado a maioria absoluta para dar um salto qualitativo no diálogo político". Leia-se, mais ou menos como o bruxo avisou César dos idos de Março, aqueles mesmo a sério, e César gozou com ele e depois lixou-se: o Socas gozou com o PC e o Bloco, quando estava a ganhar por 7-1, e agora eu é que me lixo porque não consigo que eles torçam por mim (excepto a Ana Drago e o Daniel Oliveira, cuja "aproximação" ao PS é "positiva").
Ei-la, a crítica terrível. Tu quoque, Costa?
E agora? Quem avisa metade do PS, ou mais, que o bruto também matou César pelas costas? 

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